gala(nteios)

ele tocou à campainha e a tia bateu palmas enquanto corria para abrir o portão. com esta pandemia já não o via há mais de um ano e as saudades não se matam com um portão no meio. apertou-lhe a bochecha impecavelmente barbeada, enquanto ao mesmo tempo o inspecionava da cabeça aos pés.

- estás mais magrinho, filho. Anda cá que eu fiz o assado como tu gostas tanto. Vens sozinho?

- venho, tia. 

- ainda não arranjaste uma namorada? Pois, fazes tu bem, tens tempo para escolher bem que ainda só tens quarenta anos. O teu tio de França também só assentou aos quarenta e seis e é vê-lo feliz. Vocês são todos uns galãs, esta família só tem galãs e homens bonitos.


ela tocou à campainha e a tia tornou a bater palmas entusiasmada enquanto corria para abrir o portão. com esta pandemia já não via a sobrinha há mais de um ano e não se dava com as tecnologias para fazer videochamadas. apertou-lhe a bochecha e remexeu no seu longo cabelo preto impecavelmente tratado.

- estás mais gordinha, filha. andaste a dar-lhe nas bolachas neste isolamento, não foi? Mas não faz mal, que as mulheres desta família têm todas chicha. Vens sozinha?

- venho, tia.

- ainda não arranjaste um namorado? Tu vê lá filha, que já tens trinta e cinco anos e se demoras muito ficas para tia e depois os homens não gostam disso, que para engravidar é uma chatice. Tu devias ir lá conhecer o neto da minha vizinha, que é um rapaz tão ajeitadinho, vou ver se falo com ela.

- não é preciso, tia, eu estou bem.

- oh, disparate, não me custa nada. até me aflige ver uma rapariga assim tão bonita estar sozinha.

- não estou sozinha, estou solteira.

- mesma coisa. anda lá, come aqui um bocado do meu assado que hoje é dia de festa.

os primos brindaram às saudades que esmoreciam e à felicidade crescente, mas o vinho no copo dela soube-lhe a amargo.

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