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questões, só questões

o pôr do sol estava bonito ontem, da perspetiva da cadeira da esplanada na praia onde me sentei. o café estava quente, quase (quase) tocava na alma, forte como deve ser, o cachecol aquecia o pescoço. estava bonito o mundo, ontem.  - (...) que eu sou cavalheiro. abanei a cabeça e lembrei-me que não estava sozinha com o café. senti uma pontada de vergonha por não estar a ouvir quem estava comigo, por estar a admirar o pôr do sol com o café nas mãos. - como assim?  - então, sou um cavalheiro. pousei o café que esta conversa não ia terminar bem. lá se foi a minha vergonha. - está bem, eu isso ouvi. mas isso significa o quê nos dias de hoje? - lá estás tu com o teu feminismo. - bufou. portanto, eu fiquei com o café frio, o cachecol já me estava a esganar o pescoço, o sol pôs-se e ficou frio e eu fiquei sem resposta à minha pergunta de esclarecimento. está certo. pode ser que o mundo hoje esteja melhor.

conclusões de ontem

ontem foi dia do obrigado e eu esqueci de mandar um ramo de flores e um cá-beijinho de agradecimento ao rei dos portões do inferno por ter recebido tantas pessoas que para lá mandei. que foi? é um lugar quentinho.

(mais) desejos para 2022

"oh, eu disse da boca para fora" outro meu desejo para 2022 é que esta frase deixe de ser aceite como desculpa razoável para não medir as palavras que se diz ao outro. Como se o estado de euforia emotiva ou de cólera fosse justificação suficiente para não ter limites no que se diz e se ignorar os sentimentos do outro. em bem sei que se apregoa desde sempre que as ações é que importam e não as palavras, no entanto, não vamos descurar que as palavras têm o poder de destruir (ou fazer uma mossa muito grande) o outro. afinal, o I have a dream perpetua até hoje.

dos debates de hoje.

 - e essa liberdade de garantir que todos são felizes (...) é muito importante. As sociedades evoluem.  até bati palmas cá em casa, lancei foguetes e levantei o copo de gin.

equ.idade

hoje libertei as pernas e fui caminhar. levei parceria de conversa porque debater temas e inquirir sobre o nada também é bom de se fazer.  por nós passaram duas crianças: uma na bicicleta e uma numa trotinete. decidiram fazer um, dois, três, partida e ver quem chegava primeiro. a da trotinete esforçava-se como podia, enquanto gritava que não era justo. desejei ter poderes mágicos e parar o tempo e explicar àquela criança que, efetivamente, aquilo não era justo e que ainda estava no início da sua jornada, onde ia apanhar mais situações injustas e como poderia defender-se.  o mundo poderia ser mais empático e um cantinho melhor do universo se ensinássemos às crianças a dizer "a tua bicicleta é mais rápida que a minha trotinete, por isso, as nossas condições não são iguais. e se em vez de fazermos uma competição, andarmos lado a lado a cantar músicas do justin bieber?" (ou de outro cantor qualquer vá, não julgo).  um amigo meu, adulto de trinta e um anos, disse-me, num dos nosso

gala(nteios)

ele tocou à campainha e a tia bateu palmas enquanto corria para abrir o portão. com esta pandemia já não o via há mais de um ano e as saudades não se matam com um portão no meio. apertou-lhe a bochecha impecavelmente barbeada, enquanto ao mesmo tempo o inspecionava da cabeça aos pés. - estás mais magrinho, filho. Anda cá que eu fiz o assado como tu gostas tanto. Vens sozinho? - venho, tia.  - ainda não arranjaste uma namorada? Pois, fazes tu bem, tens tempo para escolher bem que ainda só tens quarenta anos. O teu tio de França também só assentou aos quarenta e seis e é vê-lo feliz. Vocês são todos uns galãs, esta família só tem galãs e homens bonitos. ela tocou à campainha e a tia tornou a bater palmas entusiasmada enquanto corria para abrir o portão. com esta pandemia já não via a sobrinha há mais de um ano e não se dava com as tecnologias para fazer videochamadas. apertou-lhe a bochecha e remexeu no seu longo cabelo preto impecavelmente tratado. - estás mais gordinha, filha. andaste

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 - estou a ver-te sempre a escrever. - sim, gosto de o fazer. - e sobre o que escreves tanto?  - sobre ti, neste momento. - a sério? E o que escreves? - pontos finais. que nunca se subestime o poder da pontuação. Ponto final, parágrafo é uma lei universal.